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O GERENCIAMENTO DE RISCOS PELA ISO31000

 

Ubiratan Schuch Pinto[1]

Luiz Abner de Holanda Bezerra[2]

 

RESUMO

Vive-se um momento de transição no âmbito das organizações em nível mundial. Num passado recente convivia-se com organizações e produtos. Contemporaneamente, convive-se com modelos e conceitos. Diante disso, este artigo tem por objetivo geral observar como ocorre na prática este processo de mudança e como as organizações lidam com os mecanismos voluntários de gestão e, em particular, com a ISO31000. Para alcançar êxito e conseguir realizar este objetivo, utilizou-se o método qualitativo de pesquisa; quanto aos seus fins, este artigo caracteriza-se como descritivo, interpretativo e exploratório, em virtude deste assunto ser novo e pouco difundido no meio científico e, em particular, nas organizações. Quanto aos meios de coleta de dados, empregou-se o levantamento bibliográfico. Os resultados indicam que as ferramentas de gestão voluntárias assumem um papel importante como um diferencial competitivo das organizações na sociedade do conhecimento. Observou-se também que o mercado está mais exigente em relação à importância que as organizações dedicam à gestão de riscos corporativos.

 

Palavras Chave: ISO 31000. Gerenciamento de Riscos Corporativos. Sistema de Gestão

 

 

ABSTRACT

We live in a time of transition in organizations worldwide. That is, in a not too distant past lived with organizations and products. Contemporaneously, with live models and concepts. Thus, this article aims to look at how most occurs in practice this process of change and how organizations deal with the voluntary mechanisms of management and in particular with ISO31000. To achieve success and accomplish this goal we used the qualitative method of research that took as its purpose the bias descriptive, interpretive and exploratory in view of this subject is new and not very focused in the scientific community and in particular organizations. As for the media - content collection - the qualitative research method has been objectified in the form of a consistent literature. The results show clearly and without any opacity that voluntary management tools assume a very important role as a competitive society organizations of knowledge. The market is increasingly demanding about the importance that organizations engage in corporate risk management.
 

Keywords: ISO 31000. Corporate Risk Management. Management System

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

Na busca constante de um diferencial competitivo, as organizações mudaram seus focos: do aperfeiçoamento em sua organização interna e sua capacidade produção para a aplicação de novos modelos e conceitos. Geralmente, as organizações, entre si, estão em nível semelhante de potencial competitivo, decorrente do uso dos mesmos níveis de recursos, tecnologia e de modelos gerenciais. A procura de um diferencial competitivo é, então, executada pela adoção de novos modelos e conceitos.

Em 2009 foi publicado a ISO31000, modelo normativo para o Gerenciamento de Riscos Corporativos (GRC) de organizações em forma integrada, abordando a gestão de processos, seguindo o modelo ciclo de Deming[3]. O principal objetivo das organizações é entregar um produto ou serviço, enfrentando incertezas (riscos) que podem afetar a sua capacidade de alcançá-los. Estas podem ser a perda de lucratividade, impactos ambientais, perda de saúde dos trabalhadores e outros. O benefício da adoção do GRC é o seu foco na avaliação do nível de incerteza envolvido no alcance dos objetivos e a identificação da necessidade de qualquer ação, em uma forma sistemática.

Diante disso, o objetivo deste artigo é apresentar os benefícios do GRC através do mecanismo voluntário representado pela ISO31000. Adotou-se o método qualitativo de pesquisa para se chegar à concepção do objetivo deste ensaio. Quanto aos fins, este método assumiu os aspectos exploratório, descritivo e interpretativo. No que diz respeito aos meios de coleta de conteúdo, fez-se o uso do levantamento bibliográfico. Espera-se, ao longo do desenvolvimento deste trabalho, observar a agregação de valor aos modelos e conceitos empregados pelas organizações, após a implementação da ISO31000.

 

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS DO GRC

 

Risco indica a probabilidade de acontecer um evento indesejado[4]. É a medida de perda relevante para uma organização. O risco é inevitável e dificilmente eliminado. A condição de não alcançar um resultado programado e desejado é conceitualmente nomeado como perigo. Ou seja, é uma propriedade intrínseca de qualquer operação.

A aplicação do GRC no início da industrialização no mundo era uma situação de difícil operacionalização: inexistiam modelos de gerenciamento de riscos e poucas estatísticas de ocorrências de acidentes. Esta situação mudou quando do surgimento dos trabalhos de Heinrich e Bird. em 1931, publicou o livro , que, numa análise empírica, ficou conhecido como a ‘Lei de’. Esta lei registrou que “[...] em um local de trabalho, para cada acidente que provoca um ferimento grave, há 29 acidentes que causam ferimentos leves e 300 acidentes que não causam lesões”.Na conhecida Teoria dos Dominós, Heinrich verificou que o acidente e a lesão são geralmente causados pelo homem – “homem-falha” -, responsáveis por 88 % dos acidentes, sendo que dez por cento são por condições inseguras e os restantes dois por cento são inevitáveis. Heinrich afirma que “95 % dos acidentes de trabalho são causados por atos inseguros[5]” (BERTON, 1996).

Posteriormente, na década de 1960, Frank Bird analisou dados de 297 companhias norte-americanas, envolvendo 170.000 pessoas e 1.753.498 acidentes comunicados. A partir dos dados dessa pesquisa, foi criada a ‘Pirâmide de ’; o estudo concluiu que a “para a ocorrência de um acidente que incapacite o trabalhador, anteriormente acontecerão 600 incidentes sem danos pessoais e/ou materiais (BERTON, 1996; UNITED STATES, 1993).

Segundo Minniti e Tomaz (2005), Bird e Heinrich consolidaram o início dos estudos da ocorrência de acidentes introduzindo fatores importantes: a quantificação do dano, o impacto e a probabilidade da sua ocorrência, que se tornaram bases do GRC. Desse modo, um estudo de identificação de risco e avaliação de consequências deve ter como objetivo principal responder as seguintes questões: O que pode dar errado? Causas básicas dos eventos? Suas conseqüências? Qual é o seu cenário? Frequências de ocorrência? O risco é tolerável? O risco é gerenciado, atuando-se na sua freqüência de ocorrência, nas conseqüências ou em ambas. Dessa forma, o risco pode ser expresso como uma função da freqüência, cenário e consequência.

 

2.1 Gerenciamento de riscos

 

O gerenciamento de riscos inclui a identificação e avaliação de riscos (riscos inerentes) e, em seguida, respondê-los. Toda organização precisa tomar medidas para gerenciar o risco dentro de um nível aceitável e justificável[6] (UNITED KINGDON, 2004).O quantitativo de risco residual[7] é função da incerteza associada à determinação do risco. A redução desta tem efeito lógico em um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis às organizações: objetiva conseguir uma resposta melhor de combate ao risco, priorizados de acordo com sua avaliação (BITENCOURT; QUELHAS, 1998).

 

2.2 Modelo Normativo ISO31000

 

Usualmente, a análise de riscos é um processo de vida ‘curta’ que ocorre em momentos finitos de uma organização, acontecendo sem a continuidade de sua realização e avaliações dos resultados obtidos. Para tal, com sua abordagem de processo, a ISO31000 pode aperfeiçoar a análise de riscos e o GRC. De acordo com a (2008), o modelo estudado de GRC tem os seguintes princípios:

a) Agregar valor: contribui para a realização dos objetivos e para a melhoria do desempenho de uma organização;

b) Integrar os processos organizacionais: integra as responsabilidades e tarefas de uma organização;

c) Contribuir para tomadas de decisão, para as escolhas conscientes e priorização de ações;

d) Focar a incerteza nas decisões tomadas e como esta pode ser tratada;

e) Abordar de forma sistemática, estruturada e oportuna a sua gestão: contribui para a eficiência e para os resultados;

f) Fundamentar-se nas melhores informações disponíveis (dados históricos, experiências e observações de especialistas);

g) Ser feita sob medida para cada organização, alinhada com o seu contexto interno e externo e com o perfil do risco;

h) Considerar fatores humanos e culturais: as capacidades, percepções e intenções do pessoal interno (realizadores dos objetivos da organização) e externo;

i) Ser transparente e inclusiva; deve ser garantido o envolvimento apropriado das partes interessadas e dos tomadores de decisão em todos os níveis da organização;

j) Ser dinâmica, iterativa e capaz de reagir a mudanças, adequando-se a eventos externos e internos (aumento, redução e cessão de riscos), realizando monitoração e análise crítica destes fatores;

k) Facilitar a melhoria contínua da organização e sua resistência a crises.

 

O GRC estabelecido na ISO31000 envolve a aplicação de métodos para:

  • Definição do escopo da gestão de riscos: interno (estrutura organizacional, processos, responsabilidades, os sistemas de informação e diálogo entre partes interessadas) e externo a organização (ambiente social, financeiro, tecnológico, econômico, localização e outros) bem como a relação com partes interessadas externas;

  • Comunicação e consulta; definição de meios de comunicação e consulta às partes interessadas, externas e internas: informe e coleta de dados sobre riscos, sinistros, tratamento e outros;

  • Identificação, avaliação e tratamento dos riscos de suas atividades, processos, produtos serviços e ativos. A ISO31000 recomenda que os riscos devam ser evitados pela remoção de sua fonte, redução da probabilidade e/ou conseqüência da sua ocorrência e outras (abordagem semelhante à OHSAS 18001/2007). No mecanismo do citado modelo, esta é a parte principal;

  • Atividades de monitoramento e revisão dos riscos analisados: os critérios de identificação e avaliação de riscos podem ser alterados, novas ocorrências podem surgir; o contexto interno e externo pode sofrer alterações;

  • Registro e comunicação dos resultados. As medidas tomadas, seus resultados, as lições aprendidas, alterações no contexto, novos riscos que surgiram e outras mudanças devem ser registrados, de forma a garantir o monitoramento dos resultados e a sua preservação (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2008).

 

A Figura 1 apresenta o GRC de acordo com o modelo estudado. Sua implementação inicia-se pela definição do contexto da gestão de riscos interno ou externo a organização. Recomenda-se, inicialmente, adotar o contexto interno da organização, relacionado à gestão de riscos de incidentes[8], da saúde e segurança do trabalho, danos em equipamentos e utilidades e outras facilidades de produção.

 

As organizações com sistemas de gestão fundamentados em normas como a ISO9000 ou a OHSAS18001 trazem facilidades para a implementação da ISO31000. Estas já trazem rotinas baseadas no ciclo PDCA e alguma semelhança com a estudada, como a rotina de Comunicação e Consulta e Análise Crítica. Para organizações que não tenham sistemas de gestão, a adoção de rotinas de Comunicação e Consulta pode ser através do uso de endereço eletrônico ou número telefônico dedicado dentre outras; a adoção de rotina para o monitoramento e revisão dos riscos analisados pode ser através do acompanhamento periódico de indicadores de incidentes, danos em equipamentos e outros.

Pelo modelo estudado, nas etapas de identificação, análise, avaliação e tratamento de riscos, Minniti e Tomaz (2005) sugerem que “[...] A organização deve aplicar técnicas de identificação de riscos e avaliação de consequências adequadas aos seus objetivos, capacidade e ao tipo de risco enfrentado”. Desse modo, a organização deve escolher a técnica de avaliação de acordo com suas necessidades. O uso de técnicas de identificação e avaliação de risco é útil em qualquer fase de um empreendimento.

De acordo com os ‘Critérios para aplicação de técnicas de avaliação de riscos’ “Todas as fases de ciclo de vida de um empreendimento devem ser submetidas a técnicas de identificação de perigos” (BRASIL, 2008). Comumente, surgem dúvidas de quais são as técnicas de identificação de perigos e de avaliação de riscos a ser utilizadas. A norma técnica N-2782 da Petróleo Brasileiro S.A. (BRASIL, 2008) traz útil orientação, conforme Quadro 1.

 

 

 

 

 

 

2.2.1 Técnicas de identificação de riscos

 

As Técnicas de Identificação de Riscos (TIR) podem ser conceituadas como a análise sistemática de todos os aspectos do trabalho, que identifica aquilo que é susceptível de causar lesões ou danos, as possibilidade destes riscos serem eliminados e as medidas de prevenção ou proteção indicadas. Geralmente, elas não indicam a probabilidade de ocorrência de determinado evento. Uma TIR muito empregada nas organizações é a Análise Preliminar de Perigos/Riscos (APP)[9], indicada para o estudo em áreas com possibilidade de liberação de energia de forma descontrolada (depósito de combustíveis, explosivos e outros). Esta técnica enfoca os materiais perigosos e as principais áreas de processo de uma planta tais como: matérias-primas, produtos finais e intermediários e suas respectivas reatividades, equipamentos da planta e interfaces, lay-out da instalação; ambiente operacional, atividades operacionais (teste, manutenção, etc.) e outras. A APP pode ser aplicada em etapas de pesquisa, desenvolvimento de projetos, operação, e outros, geralmente com baixa complexidade (UNITED STATES, 1993).

Após a identificação de seu escopo (processos, equipamentos, tarefas e outros), sua realização consiste na definição dos trabalhadores componentes da análise (experientes em segurança de processos e conhecedores do processo avaliado) e suas funções (Líder, responsável pelo registro dos resultados e outras), planejamento das etapas preparação para a análise, realização da análise e documentação dos resultados. Após, inicia-se a definição de situação relevante de risco por cada área de processo através da identificação dos elementos básicos do sistema e situações relevantes tais como equipamentos principais, sistemas de estocagem de energia, materiais e produtos químicos e sua reatividade, localização geográfica, condições meteorológicas, tipo de instalação e características de seu processo, requisitos legais, históricos de incidentes/acidentes e análises prévias de riscos, experiências operacionais da área em questão ou até de semelhante; presença/estado/facilidade de acesso a equipamentos de segurança e outras situações que possam gerar riscos. Depois é designado a cada situação de acidente potencial uma categoria de risco, baseada na significância das causas e dos efeitos dos acidentes, como descrito no Quadro 2. Finalmente, após a etapa acima, são identificadas as causas potenciais, seus efeitos (pior caso) e as medidas corretivas e/ou preventivas aplicáveis. Os resultados da APP devem ser registrados em tabela, a qual exibe os riscos identificados, as causas, as conseqüências potenciais (efeitos), suas categorias e as medidas corretivas e/ou preventivas identificadas, e comunicado aos interessados. A APP é de cunho qualitativo.

 

 

Para o registro de uma APP pode ser usado o modelo a seguir, Quadro 3:

 

 

 

 

 

 

 

 

Outra TIR bastante empregada é o Failure Modes and Effects Analysis (FMEA) ou Análise de Modos de Falha e Efeitos. O FMEA foi desenvolvido pela NASA, em 1963, para identificar falhas potenciais em sistemas, suas causas e efeitos e ações de mitigação ou eliminação do risco (RAMOS; FERNANDES; REBELATO, 2010).

Sua execução inicia-se pela divisão do sistema estudado em subsistemas que podem ser efetivamente controlados. Nesta técnica é primordial que se compreenda o sistema em que se está atuando e qual a função e objetivos do mesmo, as restrições sob as quais irá operar, além dos limites que podem representar sucesso ou falha. Para cada subsistema são identificados comportamentos (efeitos) em relação aos modos básicos de falha: I- falha em operar no instante prescrito; II- falha em cessar de operar no instante prescrito; III- operação prematura; IV- falha em operação. Posteriormente, é identificada a severidade (Ver Quadro 2), as causas possíveis para cada falha e as medidas para sua eliminação ou redução (BERTON, 1996).

Apesar de sua utilização ser geral, o FMEA é indicado às indústrias de processo, principalmente quando o sistema em estudo possui instrumentos de controle, levantando necessidades adicionais e defeitos de projeto, definindo configurações seguras para os mesmos quando ocorrem falhas de componentes críticos ou suprimentos.

O FMEA é realizado inicialmente de forma qualitativa. Posteriormente, pode-se proceder à análise quantitativa para estabelecer a confiabilidade do sistema ou subsistema, a partir das probabilidades individuais de falha de seus componentes e a determinação de como estas poderiam ser reduzidas, por exemplo, pelo uso de componentes com confiabilidade alta ou pela verificação de redundâncias de projeto. (FONTE).

O Quadro 4 apresenta a aplicação da técnica FMEA a um sistema de frenagem de carros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A última TIR apresentada neste trabalho, como indicação para atendimento ao modelo estudado, é o Hazard and Operability Study (HAZOP). O HAZOP é uma técnica qualitativa desenvolvida para examinar a operabilidade de um processo através de aplicação de “palavras guias” nos parâmetros de processo empregado, em estudo realizado em plantas/fluxogramas de processos. Geralmente, neste estudo, são detectados mais problemas operacionais do que identificados perigos, o que aumenta a sua importância, pois a diminuição dos riscos está ligada a eliminação de problemas operacionais (BERTON, 1996).

Os parâmetros usuais de um processo de produção são as variáveis do processo tais como: vazão, concentração pressão, temperatura e outras. Os procedimentos operacionais podem ser, dentre outros: atividades de operação, transferência, polimerização, aquecimentos e outras. Já as palavras-guias, com os respectivos significados, são: não, nenhum – negação da intenção projetada; mais (mais alto) – acréscimo quantitativo; menos (mais baixo) – decréscimo quantitativo; parte de – decréscimo qualitativo; além de – acréscimo qualitativo; reverso (ao contrário de) – oposto lógico da intenção, outro que não – substituição completa (SOUZA, 1995).

Segundo Minniti e Tomaz (2005), para a realização dos estudos, recomenda-se a posse de diagramas de tubulação e instrumentação, fluxogramas de processo e balanço de materiais, desenhos isométricos, disposição física da instalação, memoriais descritivos do projeto, folha com os dados dos equipamentos, diagramas lógicos de inter-travamento, dados das reações química dos processos e outras.

De acordo com Berton (1996), o processo de execução de um estudo de HAZOP utiliza os seguintes termos:

  • Nós-de-estudo: são os pontos estudados em um processo, identificados nos fluxogramas da planta (desenhos de tubulação e instrumentação), onde será a análise dos desvios dos seus parâmetros de operação através da aplicação das palavras-guias. Os nós-de-estudo são bombas, vasos, trocadores de calor, linhas de vapor, água, ar comprimido, nitrogênio e drenagem, etc.;

  • Intenção de operação: definição dos parâmetros de funcionamento normal da planta, na ausência de desvios, nos nós-de-estudo, ou seja, a condição normal esperado de desempenho;

  • Desvios: os desvios são afastamentos das intenções de operação, que são evidenciados pela aplicação sistemática das palavras-guia aos nós-de-estudo (p. ex., mais pressão);

  • Causas: são os motivos pelos quais os desvios ocorrem;

  • Consequências: resultados decorrentes de um desvio da intenção de operação em um nó;

  • Parâmetros de processo: já apresentado anteriormente;

  • Palavras-guia ou palavras-chave (Guide Words): são palavras simples utilizadas para qualificar os desvios da intenção de operação e para guiar e estimular o grupo de estudo ao “brainstorming” dos problemas operacionais.

 

A equipe de estudo começa pelo início do processo, progredindo no sentido do seu fluxo natural, aplicando palavras-guia em cada nodo de estudo, identificando os problemas potenciais nesses pontos e analisando os efeitos desse desvio no ponto em questão, determinando suas causas, bem como suas consequências.

Para Berton (1996), o sucesso do HAZOP depende da qualidade dos dados para a fase de estudo e da habilidade técnica da equipe envolvida.

 

 

O Quadro 5 apresenta a  aplicação da técnica HAZOP para o sistema apresentado na Figura 2.

 

 

 

 

 

 

2.2.2 Técnicas de avaliação de riscos

 

Uma forma mais sofisticada de atender as demandas da ISO31000 é a adoção de Técnicas de Avaliação de Riscos (TAR), as quais trazem o benefício da quantificação probabilística da ocorrência de um evento[10]. O principal benefício da adoção de uma TAR é a estimação do nível de confiabilidade da prevenção a riscos da estrutura/processo instalado. Seu emprego em processos produtivos, inicialmente, previa a sua aplicação somente aos equipamentos e questões operacionais: a falha humana presumida era desconsiderada no estudo probabilístico. Contudo, nos anos 70, em revisão da aplicação das técnicas de análises, foi reconsiderada a sua exclusão. Catástrofes no projeto espacial norte-americano Apolo estimaram alterações nesta concepção, mostrou-se, que a explosão de um foguete tripulado podia estar associada a uma falha na vedação de combustível e esta, a um evento doméstico na vida do responsável pela confecção daquela junta de vedação (SOUZA, 1995). Segundo Lieber e Romano (1997), uma TAR bastante empregada é a Análise de Árvore de Eventos (AAE) - Event Tree Analysis (ETA). Esta técnica é um método indutivo para identificar as possíveis conseqüências de um evento inicial frente à estrutura de contenção de emergência disponível; determina as probabilidades de ocorrências de eventos indesejáveis, o relacionando com suas possíveis conseqüências. 

O evento inicial da AAE, de alta relevância, pode ser a falha de um componente ou subsistema, sendo as conseqüências do acontecimento do evento inicial determinadas pelas capacidades das barreiras de contenção de emergência, presente no sistema estudado. O evento inicial pode ser uma situação com conseqüências não esperadas e indesejáveis, como por exemplo, vazamentos de gás, queda de objetos, inicio de fogo e outros (RAUSAND, 2005). Então, delineia-se desde o evento inicial até as combinações de eventos posteriores e suas possíveis consequências. Usualmente, cada cenário é estabelecido apenas em “aconteceu” ou “não aconteceu”. 

De acordo com a International Organization for Standardization (2008), as etapas da AAE são:

a) Identificar e definir o evento inicial não desejado;

b) Determinar a (s) as consequência (s) da ocorrência do evento inicial e quais são as formas de controle disponíveis e já operacionais.

 

Após a construção da árvore de eventos, devem ser definidas para cada etapa as probabilidades de suas ocorrências e qual o resultado final da seqüência de etapas.

A aplicação da técnica AAE, para a situação na Figura 3, é apresentado no Quadro 6.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por exemplo: para um evento inicial explosão, prevê-se a consequência incêndio. Para a mitigação desta consequência, estão disponíveis no processo avaliados as barreiras de controle sistemas de alarme de incêndio e sistema de sprinkler. Ver

Quadro 6.

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A adoção do modelo de Gestão de Riscos Corporativos (GRC) em conformidade com a IS031000 promove diferencial competitivo às organizações da sociedade do conhecimento. Em outras palavras, esta prática atende ao mercado cada vez mais exigente com relação à importância que as organizações dedicam à gestão de riscos corporativos.

A prática GRC reduz sobremaneira a vulnerabilidade de uma organização, tornando-a mais longeva.

Por fim, a estrutura das organizações que praticam a GRC são moldadas para a antecipação de riscos não previstos. Por exemplo: custos de indenizações de acidentes do trabalho, afastamentos médicos, perdas de produtividade devido à falta de continuidade operacional de equipamentos e outros, com reflexos óbvios no aumento de competitividade das organizações.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BERTON, A. Uma metodologia para auxiliar no gerenciamento de riscos e na seleção de alternativas de investimentos em segurança. 120 f; Dissertação de Mestrado – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 1996.

BITENCOURT, Celso Lima; QUELHAS, Osvaldo Luis Gonçalves. Histórico da evolução dos conceitos de segurança. Anais do XVIII ENEGEP: Niterói, 1998. Disponível em <, http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ ART369.pdf >. Acesso em: 09 jan, 2012.

BRASIL. ABNT Associação Brasileiras Normas Técnicas – NBR 6023. Informação e documentação, referências, elaboração. Brasília: ABNT, 2002.

BRASIL. Critérios para aplicação de técnicas de avaliação de riscos. Petrobras, N-2782. Rio de Janeiro: Contec, 2007

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Draft International Standard ISO/DIS 31000. Risk management. Principles and guidelines on implementation, 2008

LIEBER, R. R.; ROMANO, N. S. Saúde, ambiente, produção e o enfoque de risco. In: Anais do 5o Encontro Nacional de Estudos do Trabalho. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Estudos do Trabalho - ABET. 1997.

MINNITI, Vivienne Maria; TOMAZ, Sandro Roberto. Curso de análise, avaliação e gerenciamento de risco. São Paulo: CETESB, 2005.

RAMOS, FERNANDES E REBELATO. Proposta de um Método para Integração entre QFD e FMEA. 2010. 120 f. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, PUCPR, Curitiba, 2010

RAUSAND, M. System Analysis, Event Tree Analysis. Department of Production and Quality Engineering  Norwegian University of Science and Technology, 2005. Disponível em <marvin.rausand@ntnu.no http://www.ntnu.no/ross/slides/eta.pdf>. Acesso em: 10 jan.2012

SOUZA, E. O treinamento industrial e a gerência de riscos - uma proposta de instrução programada. 145 f. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 1995.

UNITED KINGDON. The Orange Book Management of Risk: Principles and Concepts.  London: HM Treasury on behalf of the Controller of Her Majesty’s Stationery Office, 2004.

UNITED STATES. Military Standard. System Safety Program Requirements. MIL STD 882 c, 19 January 1993.Washington: Department of Defense, 1993.

 

[1] Mestre em Engenharia de Materiais, Engenheiro Químico. Especializando em Engenharia de Segurança do Trabalho na Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Email: usp_26@yahoo.com.br

[2] Doutor em Engenharia de Produção e Engenheiro de Segurança do Trabalho. E mail: abner@newsite.com.br.

 

[3]  PDCA: Plan, Develop, Check, Action

[4]  Este trabalho focará somente o risco indesejável.

[5] Toda forma incorreta de trabalhar, desrespeito às normas de segurança, ou seja, ações conscientes ou inconscientes que possam causar acidentes ou ferimentos.

[6] Apetite de Riscos

[7] Risco Residual

[8] Evento relacionado ao trabalho no qual uma lesão ou doença ou fatalidade ocorreu ou poderia ter ocorrido.

[9] A APP é bastante empregada em análise de risco nas empresas brasileiras.

[10] O FMEA, com certos ajustes, permite uma avaliação probabilística, porém este emprego não é usual.

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